domingo, 31 de maio de 2009

Uma história de superação

Há algum tempo, uma adaptação para as telas de um livro de Jane Austen intitulado Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) fez sucesso nos cinemas e aparelhos de DVDs pelo mundo afora. O que nem todos sabem é que originalmente a obra literária era para ser chamada de First Impressions (Primeiras Impressões), algo que fica nítido para quem viu o filme. Normalmente, a primeira impressão que uma pessoa tem da outra é baseada em certos padrões comportamentais já estabelecidos (aparência, modo de se expressar, atitudes, etc) e que podem vir carregados com uma dose de preconceito suficiente para dificultar uma análise mais profunda e o desenrolar de uma situação inicial. Isso nunca ficou tão evidente quanto no episódio Susan Boyle. Susan, que ao nascer sofreu pequenos danos cerebrais, é uma escocesa de 48 anos, desempregada, que resolveu participar do Britain's Got Talent, um programa da TV britânica que procura revelar novos talentos em diversas áreas artísticas. Quando subiu ao palco, com o seu estilo desleixado e despretensioso, ninguém ficou impressionado (não positivamente) e a grande maioria não dava um tostão furado para ela, ainda mais se tratando de um programa que vai em busca de ídolos pop, com todos os requisitos que o rótulo necessita (juventude, beleza, empatia, etc). Porém, parte importante desses requisitos, e que muitas vezes é quase relegada quando o assunto é música, é o desempenho vocal, é o cantar, e isso Susan provou que sabia fazer magistralmente. Ela foi, viu e venceu uma batalha pessoal ao interpretar "I Dreamed a Dream" e surpreender a todos com a sua voz bem postada e límpida, inclusive aos jurados, entre os quais estava o implacável produtor musical Simon Cowell (também jurado do American Idol). Naquele momento, a primeira impressão e o conseqüente preconceito diante da imagem da escocesa foram para o espaço. Ela foi aplaudida de pé e não tinha consciência alguma do que tinha acabado de fazer, inclusive já estava saindo do palco quando foi advertida a voltar e a escutar o veredicto final dos três jurados, todos maravilhados, assim como o público (existem vários vídeos na internet com essas imagens). A partir dali, Susan se tornou celebridade instantânea, sendo convidada para inúmeros programas (ingleses e americanos) e para gravar um cd, produzido por Cowell. Até um filme sobre a sua vida já foi cogitado.
Agora, assuntos emocionais e mercadológicos à parte, o que ficou de mais significativo nessa história toda é o dom que certas pessoas têm de surpreender positivamente, mesmo quando existem adversidades no caminho. Se Susan Boyle virou uma atração pop da noite para o dia e, aparentemente, logo será esquecida, não importa (creio que nem para ela, que apenas queria homenagear a sua mãe, morta em 2007 e que sempre a incentivava). Se Susan Boyle foi uma "armação" do programa para atrair mais audiência, como dizem os céticos, pouco importa. Se Susan Boyle não venceu a etapa final do Britain's Got Talent, realizada ontem, importa menos ainda. O que a escocesa deixou registrado durante a sua primeira performance na TV é que a superação frente aos problemas e aos julgamentos preliminares, sendo um ato construtivo, sempre é louvável e justifica os meios (nem que seja necessário se expor em rede mundial, como foi o caso dela).

"Eu sabia o que eles estavam pensando, mas por que isto me preocuparia se eu sei cantar? Não é um concurso de beleza."
Susan Boyle, The Sunday Times

Não preciso escrever mais nada.

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