domingo, 7 de fevereiro de 2010

Duas vidas

Nick Cave & The Bad Seeds
The Boatman's Call (1997)

Histórias de amores partidos sempre renderam grandes discos; "The Boatman's Call", de Nick Cave & The Bad Seeds, é um caso clássico. De uma beleza gélida, esparsa, o cantor vai descrevendo o seu estado de espírito, cheio de dúvidas e sentimentos de perda. Supostamente inspirado no final do seu envolvimento com a cantora inglesa P.J. Harvey (a canção "West Country Girl" é um sinal), o álbum traz 12 músicas bem trabalhadas, onde pianos e instrumentos de cordas, a cargo dos Bad Seeds (mais contidos desta vez), formam uma base perfeita para as letras cáusticas de Cave. Tudo gira em torno das desilusões amorosas ("Into My Arms"), da falta de esperança ("People Ain't No Good") e da distância que isso resulta ("Far From Me"), emolduradas em belas melodias. A voz de barítono e soturna do australiano contribui para o clima "dor de cotovelo", transparecendo um coração dilacerado. Mas não há espaço para auto piedade. Simplesmente, são relatos (quase) poéticos de quem vê a dor do relacionamento perdido de forma realista e inevitável: "O amor é um estado que gostaria que existisse para sempre, mas eu sei o potencial da dor. É como uma droga, que te tira de uma vida medíocre e te coloca em um estado de inspiração e devaneio nunca antes imaginado. A intenção das letras é chegar até a verdade do que acontece nesses relacionamentos."
Lançado no final dos 90, "The Boatman's Call" é freqüentemente apontado como um dos melhores trabalhos de Nick Cave, e foi feito numa época em que o cantor deixou de lado a sua usual esquizofrenia crítica e pintou um quadro vívido e melancólico do que o amor pode causar, sentindo, dolorosamente, na própria pele.

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